Eram outros tempos. Ricos andavam de Motorola V3, mas a internet no celular era tão sofrida que era melhor levar o laptop para usar Wi-Fi no restaurante. Nesse ambiente surge um indiano visionário que cria a primeira rede que verdadeiramente podia se chamar de social.
O Orkut não tinha engajamento político, não tinha algoritmo para favorecer um lado ou outro. Não elegeu nenhum presidente e também não contaminou adolescentes com dancinhas estranhas. Tento excluir da análise o fator saudosismo, que obviamente vai bater tanto em você que lê esse artigo, quanto no amigo aqui que vos escreve. O Orkut era a plataforma certa para o tempo certo!
O Orkut construiu na nossa cabeça os valores do que é uma rede social. Pela primeira vez, você enxergou que estava bem perto de um ator de Hollywood. Aproximou fã de ídolo. Uma sensação de proximidade única. Mostrou que a pessoa que você idolatra é gente como a gente. Pensa besteira, fala besteira, posta besteira.
O Dr. Orkut, cujo nome do criador é a marca da plataforma, conseguiu um fato raro: por duas vezes, deu o tiro certo na hora certa. Quase todo mundo que relançou marcas do passado não conseguiu sustentar a reputação de outrora e, por vezes, pagou mico ou deixou em todos aquela sensação de “era melhor ter parado na primeira”. Isso não vai acontecer com o Orkut. Por quê?
Instagram, Twitter (recém-vendido) e Facebook sobrevivem da polarização. O Instagram tem um algoritmo voltado para deprimir quem não tem uma vida de cinema. O Twitter é o maior regulador de conteúdo da internet e o Facebook virou terreno de discussão política sem fim. O Orkut foi a rede social menos tóxica que tivemos.
Por uma década, foi a maior rede social do mundo. E o relançamento dela é de um timing de gênio: o auge do ódio na internet. O Orkut tem uma coisa que o TikTok não tem: lastro afetivo. As pessoas amavam o Orkut. As pessoas eram menos odiosas em 2005, ou pelo menos tinham receio de revelar isso na internet.
Desenvolvedores indianos costumam não errar, o novo Orkut vem embalado de saudosismo e protegido do ódio e polarização política. Me arrisco a dizer que ele não vai se encaixar entre reels ou dancinha de TikTok, mas em um entretenimento mais infantil, naquela posição da Netflix de domingo à noite, para te distrair sem sugar muita atenção.
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